"Sabe, Aninha
o cristal, ele quebra mais fácil
mas todo mundo paga mais caro por ele".
O dia em que eu enxergar essa pessoa que os amigos presentes descreveram na minha nova linda cozinha
eu vou ficar insuportável!
Reitero meu maior desejo, ao partir o bolo:
que as pessoas que eu amo, todas
morram de velhas.
(...)
domingo, 2 de agosto de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Invasão de Manancial
Eu conheci um homem que sofreu demais.
Até uma barata corre, se você tenta feri-la. Inteligentemente, a psique humana se auto-imuniza contra os venenos que ela detecta, por experiência, que têm o poder de feri-la.
Este homem aprendeu que não vale a pena amar. De uma forma ou outra, o Destino – a quem alguns chamam de “Deus” – arranca-nos o que é mais precioso, parecendo não ter a menor noção da dimensão de que nada resta da estrutura, quando se retira dela o chão.
Este homem descobriu que há muito mais segurança na escolha de trancafiar a expressão de seus próprios sentimentos, não em caixa ou prisão alguma, senão dentro de si mesmo. Em tão obscuro lugar, quem poderá encontrá-los? Reaquecê-los? Questioná-los? Danificá-los mais?
Daí que este homem descobriu que fincar seus pilares em natureza morta e em pré-desesperanças, e não em vulneráveis e falíveis, pessoas, o salvaria mais certamente de fazer a temível viagem de volta do inferno. Agora que já o atravessou, e foi com suas “malas e viagens” para a caverna mais longínqua de lá, exausto, acampou-se. Apagou sua própria lâmpada - o que o tornou um qualquer - não porque sonhara desde a infância em desperdiçar a existência de tal forma, mas para proteger-se da própria visão que teria dos escombros, das correntes, dos ossos de outros que já foram como ele, fazendo-lhe colchão, companhia, predições.
Justo.
Mas o Amor, a Alegria, o Companheirismo e o Nada são a mesma coisa, se você guardá-los no mesmo lugar. E, embora este homem se tenha guardado dentro do inferno que está dentro de si mesmo, de forma que não haja grito diante de Deus que tenha força suficiente para trazê-lo de tão longe, este homem anda por aí. E ele cativa pessoas com os talentos que adquiriu para as coisas seguras, como o próprio trabalho e sua máscara social – que só traz a ganhar, para quem a desenvolver com malícia – não, “maldade” - na medida ideal.
Quem pode condená-lo?
Quem pode, dentre nós, contar uma história de alguém que foi levado ao tribunal pelo que ‘deixou de’ fazer e, assim, ter destruído a integridade do invisível, da alma – da química – que é de outrem?
E quem pode, dentre todos, condenar este homem que des-amou, com direito, o ato de amar; que desacredita em esparsas alegrias e não admite prostração diante do sofrimento por um segundo sequer, já que a razão que o ocupa inteiro torna tudo indolor pelo fato de que “tudo passa?” Ele dá lugar à euforia sob circunstâncias favoráveis a ela, e é, nalguns mundos, o que mais faz alguns se prostrarem, pelos comentários somente depreciativos que faz e pelas proteções que não oferece a quem esperava somente nele. Ele acoplou plenamente seu companheirismo à sua própria impermeável e genial máscara social que oferece, oferece, oferece, mas nunca precisa.
E quem pode corrigir este homem, que passa como um nada às pessoas que mais precisavam que ele tivesse coragem de fazer, com a ajuda de Deus e de um conhecedor profissional das perspicácias das sinapses e associações da mente (é, um psiquiatra), o tortuoso caminho de volta de seu próprio inferno - que ele acredita serem os outros, segundo a ironia de Dante?
Qual Deus pode condenar este rico miserável, que ainda se passa pelo próprio diabo quando alguém que ainda o quer ousa visitá-lo em seus escombros malcheirosos, escuros, obtusos...?
---------------------
Estou fazendo o caminho de volta do meu próprio inferno, pra viver tudo e contribuir para que os meus vivam também seu próprio máximo
e isto já é duro o bastante pra mim.
(...)
Até uma barata corre, se você tenta feri-la. Inteligentemente, a psique humana se auto-imuniza contra os venenos que ela detecta, por experiência, que têm o poder de feri-la.
Este homem aprendeu que não vale a pena amar. De uma forma ou outra, o Destino – a quem alguns chamam de “Deus” – arranca-nos o que é mais precioso, parecendo não ter a menor noção da dimensão de que nada resta da estrutura, quando se retira dela o chão.
Este homem descobriu que há muito mais segurança na escolha de trancafiar a expressão de seus próprios sentimentos, não em caixa ou prisão alguma, senão dentro de si mesmo. Em tão obscuro lugar, quem poderá encontrá-los? Reaquecê-los? Questioná-los? Danificá-los mais?
Daí que este homem descobriu que fincar seus pilares em natureza morta e em pré-desesperanças, e não em vulneráveis e falíveis, pessoas, o salvaria mais certamente de fazer a temível viagem de volta do inferno. Agora que já o atravessou, e foi com suas “malas e viagens” para a caverna mais longínqua de lá, exausto, acampou-se. Apagou sua própria lâmpada - o que o tornou um qualquer - não porque sonhara desde a infância em desperdiçar a existência de tal forma, mas para proteger-se da própria visão que teria dos escombros, das correntes, dos ossos de outros que já foram como ele, fazendo-lhe colchão, companhia, predições.
Justo.
Mas o Amor, a Alegria, o Companheirismo e o Nada são a mesma coisa, se você guardá-los no mesmo lugar. E, embora este homem se tenha guardado dentro do inferno que está dentro de si mesmo, de forma que não haja grito diante de Deus que tenha força suficiente para trazê-lo de tão longe, este homem anda por aí. E ele cativa pessoas com os talentos que adquiriu para as coisas seguras, como o próprio trabalho e sua máscara social – que só traz a ganhar, para quem a desenvolver com malícia – não, “maldade” - na medida ideal.
Quem pode condená-lo?
Quem pode, dentre nós, contar uma história de alguém que foi levado ao tribunal pelo que ‘deixou de’ fazer e, assim, ter destruído a integridade do invisível, da alma – da química – que é de outrem?
E quem pode, dentre todos, condenar este homem que des-amou, com direito, o ato de amar; que desacredita em esparsas alegrias e não admite prostração diante do sofrimento por um segundo sequer, já que a razão que o ocupa inteiro torna tudo indolor pelo fato de que “tudo passa?” Ele dá lugar à euforia sob circunstâncias favoráveis a ela, e é, nalguns mundos, o que mais faz alguns se prostrarem, pelos comentários somente depreciativos que faz e pelas proteções que não oferece a quem esperava somente nele. Ele acoplou plenamente seu companheirismo à sua própria impermeável e genial máscara social que oferece, oferece, oferece, mas nunca precisa.
E quem pode corrigir este homem, que passa como um nada às pessoas que mais precisavam que ele tivesse coragem de fazer, com a ajuda de Deus e de um conhecedor profissional das perspicácias das sinapses e associações da mente (é, um psiquiatra), o tortuoso caminho de volta de seu próprio inferno - que ele acredita serem os outros, segundo a ironia de Dante?
Qual Deus pode condenar este rico miserável, que ainda se passa pelo próprio diabo quando alguém que ainda o quer ousa visitá-lo em seus escombros malcheirosos, escuros, obtusos...?
---------------------
Estou fazendo o caminho de volta do meu próprio inferno, pra viver tudo e contribuir para que os meus vivam também seu próprio máximo
e isto já é duro o bastante pra mim.
(...)
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Renascimento
Quem merece ser temido, não se deve correr o risco de amá-lo.
E quem merece ser amado, por que se o deve temer?...
Medo e Amor não moram juntos.
Um deles, terá que se mudar - ou até mesmo, morrer.
(pra quem ama, ou pra quem teme, isto tanto faz.)
Importa
é que haja fim da discussão interna.
(...)
E quem merece ser amado, por que se o deve temer?...
Medo e Amor não moram juntos.
Um deles, terá que se mudar - ou até mesmo, morrer.
(pra quem ama, ou pra quem teme, isto tanto faz.)
Importa
é que haja fim da discussão interna.
(...)
segunda-feira, 13 de julho de 2009
sem rascunho
porque hoje não dá tempo.
Eu acordei desesperada as sete e pouco da manhã, com a agenda da semana por escrito debaixo do meu travesseiro.
Graças a Deus, que inventou o arquiteto, a cozinha fica no caminho da sala do computador. Enganchei algumas coisas de comer nos dedos, nos braços, e vim - pá.
E organiza, e pesquisa, e tem retorno, então reorganiza, faz outras pesquisas e envia, recebe retorno e se reorganiza, pesquisa uma terceira coisa pela primeira vez e a primeira coisa pela terceira, fecha uns negócios em prol do negócio que se está empreendendo, deixa outro negócio no ponto extremo da bifurcação - amanhã, isto SERÁ resolvido - e retoma a segunda pesquisa, envia dados e recebe retorno pra reorganizar o trabalho que é em grupo, conversa com quem entende do assunto por email e por msn e por telefone simultaneamente pra organizar o trabalho que é "sozinha" e não fazer doidices de principiante ansiosa (e, por que não, prepotente).
Mas por que raios me deu fome?...
ah, sim. Porque são duas e meia. Às três, devo estar perto do Aeroporto de Congonhas, pra bater um papo com meu alter-ego ainda externo, Dr. Celso (brilhante). Saio cansada, o que é extremamente positivo mas não deixa de ser desagradável. Dirijo feito uma retardada não porque tenho pressa, mas porque estou assim.
Acelerada.
Chego em casa, volto pro micro e organizo outro trabalho, empreendo outra coisa para o negócio individual, recebo uma resposta do trabalho em grupo que exige pensar em outra solução, e a proponho. Aguardo. Converso com um amigo do trabalho em grupo que é entendido no software X e em drivers e em outras coisas que pensei que me seriam pra sempre, sânscrito, para o meu negócio individual. Recebo orientação sobre outro equipamento, retorno do vendedor do Mercado Livre, e do outro, e mando os emails mas também telefono. Já dancei no ML com essa coisa de só mandar o email, não ter resposta nunca, e depois ser qualificada negativamente porque eu que "evaporei".
Nos telefonemas, estendemos a conversa em termos técnicos e aprendo mais coisas sobre o negócio individual. Enquanto isso, o trabalho em grupo que finalmente tinha se organizado para data e horário Y exige que a organização pra semana, recomece.
O estúdio de ensaio não tem mais Y disponível.
Mas que droga!!! Por que me deu fome???
São oito da noite e eu tenho que devolver um equipamento gentilmente cedido por um amigo, na casa dele, e também levar os Mini DVs dos shows do final de semana, pra transcrição em DVD, na Saúde. Ou já é Jabaquara?
É longe.
Dirijo na volta feito uma retardada, porque são dez horas da noite, eu ainda estou com fome e preciso ver se um contato de trabalho, desaparecido misteriosamente, deu as caras depois de 4097382 recados que deixei em todos os meios que você puder imaginar. Preciso também remontar o cronograma de dois dos três trabalhos coletivos. Esqueci de pesquisar preços da sugestão dum amigo entendido, sobre outro equipamento do trabalho individual, e tomar um banho, jantar enquanto meu cabelo seca pra dormir num horário que me permita render amanhã tudo que posso, e então
no farol da Vergueiro com a Luis Gois
a pessoa do carro logo à frente viu uma arma de fogo batendo em seu vidro
e eu não sei mais o que houve, só sei que houve tudo em silêncio
porque eu abaixei a cabeça com medo do que poderia assistir.
Olhando pras minhas próprias pernas, com a cabeça enterrada no volante
eu só via os olhos de Luna brilhantes, felizes
quando eu a puxasse de conchinha até mim, pra gente dormir.
(...)
Eu acordei desesperada as sete e pouco da manhã, com a agenda da semana por escrito debaixo do meu travesseiro.
Graças a Deus, que inventou o arquiteto, a cozinha fica no caminho da sala do computador. Enganchei algumas coisas de comer nos dedos, nos braços, e vim - pá.
E organiza, e pesquisa, e tem retorno, então reorganiza, faz outras pesquisas e envia, recebe retorno e se reorganiza, pesquisa uma terceira coisa pela primeira vez e a primeira coisa pela terceira, fecha uns negócios em prol do negócio que se está empreendendo, deixa outro negócio no ponto extremo da bifurcação - amanhã, isto SERÁ resolvido - e retoma a segunda pesquisa, envia dados e recebe retorno pra reorganizar o trabalho que é em grupo, conversa com quem entende do assunto por email e por msn e por telefone simultaneamente pra organizar o trabalho que é "sozinha" e não fazer doidices de principiante ansiosa (e, por que não, prepotente).
Mas por que raios me deu fome?...
ah, sim. Porque são duas e meia. Às três, devo estar perto do Aeroporto de Congonhas, pra bater um papo com meu alter-ego ainda externo, Dr. Celso (brilhante). Saio cansada, o que é extremamente positivo mas não deixa de ser desagradável. Dirijo feito uma retardada não porque tenho pressa, mas porque estou assim.
Acelerada.
Chego em casa, volto pro micro e organizo outro trabalho, empreendo outra coisa para o negócio individual, recebo uma resposta do trabalho em grupo que exige pensar em outra solução, e a proponho. Aguardo. Converso com um amigo do trabalho em grupo que é entendido no software X e em drivers e em outras coisas que pensei que me seriam pra sempre, sânscrito, para o meu negócio individual. Recebo orientação sobre outro equipamento, retorno do vendedor do Mercado Livre, e do outro, e mando os emails mas também telefono. Já dancei no ML com essa coisa de só mandar o email, não ter resposta nunca, e depois ser qualificada negativamente porque eu que "evaporei".
Nos telefonemas, estendemos a conversa em termos técnicos e aprendo mais coisas sobre o negócio individual. Enquanto isso, o trabalho em grupo que finalmente tinha se organizado para data e horário Y exige que a organização pra semana, recomece.
O estúdio de ensaio não tem mais Y disponível.
Mas que droga!!! Por que me deu fome???
São oito da noite e eu tenho que devolver um equipamento gentilmente cedido por um amigo, na casa dele, e também levar os Mini DVs dos shows do final de semana, pra transcrição em DVD, na Saúde. Ou já é Jabaquara?
É longe.
Dirijo na volta feito uma retardada, porque são dez horas da noite, eu ainda estou com fome e preciso ver se um contato de trabalho, desaparecido misteriosamente, deu as caras depois de 4097382 recados que deixei em todos os meios que você puder imaginar. Preciso também remontar o cronograma de dois dos três trabalhos coletivos. Esqueci de pesquisar preços da sugestão dum amigo entendido, sobre outro equipamento do trabalho individual, e tomar um banho, jantar enquanto meu cabelo seca pra dormir num horário que me permita render amanhã tudo que posso, e então
no farol da Vergueiro com a Luis Gois
a pessoa do carro logo à frente viu uma arma de fogo batendo em seu vidro
e eu não sei mais o que houve, só sei que houve tudo em silêncio
porque eu abaixei a cabeça com medo do que poderia assistir.
Olhando pras minhas próprias pernas, com a cabeça enterrada no volante
eu só via os olhos de Luna brilhantes, felizes
quando eu a puxasse de conchinha até mim, pra gente dormir.
(...)
sábado, 4 de julho de 2009
Centésima visita
É só o MEU blog que trava na centésima visita, há dias?
Mas que droga!!!
Eu quero me sentir popular!!!!!!!!
Mas que droga!!!
Eu quero me sentir popular!!!!!!!!
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Como sempre foi
*** Seja o que você quiser ter. ***
Por que não expurgar da vida os valores que, a despeito de serem bem-vistos, ainda não fizeram nada por você, além de aliviar-lhe a consciência?
Permita-se. (homeopaticamente)
Por que gastar madrugada lembrando de ex-gente que não te deu atenção o dia todo (e há dias... dias...)?
Dê todo seu valor só ao que tem valor.
Por que não ter medo de homens que não precisam de médicos e não gostam de cachorros?
Corra.
Por que perder sonhando, em hora útil, um tempo que se pode ser investido em realização?
Sai do msn e vai trabalhar.
Por que, meu Deus, POR QUE levar tristemente uma vida que é tão curtinha, tão sem sentido e, não-raramente, tão freqüentada por gente idiota?
Liga praquela pessoa que você não deveria ter deixado ir.
Apaga metade da agenda do seu celular.
Não abuse de medicamentos e drogas depressoras.
Por que não fazer carinhos sem medo e com verdade, já que daqui a uns 100 anos não nos restará os cabelos, o rosto, os ossos e o orgulho?
Brilhe.
*********************
Se não possui suporte para conseqüências, não empreenda. Desintegrei-me, nos últimos quatro anos, por auto-proteção. Caminhei em círculos, sem envolver, nem me envolver. Apenas carências patológicas eclodidas. Pouco abracei, pouco me declarei, pouco exigi. Pouco trabalhei, pouco estudei, nada arrisquei. Assim, pouco fui mal-interpretada, e pouco fui recusada.
Mas totalmente, frustrada.
Agora eu quero que se dane.
Como sempre foi.
(...)
Por que não expurgar da vida os valores que, a despeito de serem bem-vistos, ainda não fizeram nada por você, além de aliviar-lhe a consciência?
Permita-se. (homeopaticamente)
Por que gastar madrugada lembrando de ex-gente que não te deu atenção o dia todo (e há dias... dias...)?
Dê todo seu valor só ao que tem valor.
Por que não ter medo de homens que não precisam de médicos e não gostam de cachorros?
Corra.
Por que perder sonhando, em hora útil, um tempo que se pode ser investido em realização?
Sai do msn e vai trabalhar.
Por que, meu Deus, POR QUE levar tristemente uma vida que é tão curtinha, tão sem sentido e, não-raramente, tão freqüentada por gente idiota?
Liga praquela pessoa que você não deveria ter deixado ir.
Apaga metade da agenda do seu celular.
Não abuse de medicamentos e drogas depressoras.
Por que não fazer carinhos sem medo e com verdade, já que daqui a uns 100 anos não nos restará os cabelos, o rosto, os ossos e o orgulho?
Brilhe.
*********************
Se não possui suporte para conseqüências, não empreenda. Desintegrei-me, nos últimos quatro anos, por auto-proteção. Caminhei em círculos, sem envolver, nem me envolver. Apenas carências patológicas eclodidas. Pouco abracei, pouco me declarei, pouco exigi. Pouco trabalhei, pouco estudei, nada arrisquei. Assim, pouco fui mal-interpretada, e pouco fui recusada.
Mas totalmente, frustrada.
Agora eu quero que se dane.
Como sempre foi.
(...)
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Colapso
(enfiada num monte de almofadas. Olhos inchados, fechados. A cabeça enterrada entre as mãos. Se não aconteceu nada, sobre qual coisa se vai conversar?)
- É uma noite sem lua e sem estrela. Sabe um vale que se forma no vão entre duas paredes de pedra? Mas nem perde seu tempo. Olha pra cima: não tem fim. Não sonha em escalar, em voar.
- O que tinha lá em cima?
- Luz. Gente bem vestida, vozes. Música. Calor. Luz, luz em todos os lugares. Está tudo bem feito, colorido, e as pessoas não páram de falar umas com as outras. Sorrindo, sempre. Está tudo bem.
- E por que você desceu?
- (...) Era mentira.
- E aqui embaixo, é verdade?
- Também não sei. Mas olha.
- O quê?
- Minhas pernas e braços cortados. Esse sangue, é de verdade. Estou tentando andar. (chora) Só que eu não sei onde é "a frente", e só tem pedras irregulares. Mais caio do que ando. Vou indo cada vez mais devagar porque não enxergo nada.
- E o que tem aqui?
- Pedras irregulares, pedras irregulares e pedras irregulares. Eu tropeço nelas, eu as chuto, eu ando descalça sobre elas, eu dou de cara com paredes delas.
- Elas, sim, são de verdade.
- O meu sangue está nelas, não está?
- Vamos andando?
- Já estou indo. (chora) Não reclama.
- Quer encontrar uma lanterna?
- NEM FERRANDO!
- Não é melhor ver onde está pisando?
- Não, obrigada. Quero continuar só com a mínima noção dessa paisagem horrorosa.
- Então, que você quer encontrar?
- Qualquer coisa diferente disso tudo.
- Como o quê?
- (...) Alguma coisa colorida?...
- Como o quê?
- Não importa. Se eu ficar fascinada com alguma coisa, já tenho combustível pra andar mais um pouquinho.
- Vamos andando.
- (...)
- Achou alguma coisa?
- Pisei numa coisa macia. É uma pele. Tipo uma estola.
- Vai usar isso pra proteger qual parte do seu corpo?
- Dou a mínima pra proteção do meu corpo, agora. Estou fascinada.
- Fascinada pelo quê?
- Pelo fato de que alguém já esteve aqui. (...) É um animal pequeno. Era. Morreu faz tempo. Não tem nem cheiro, mais.
- Então pode ter mais vida, aqui.
- (chora) Morreu faz tempo.
- Vamos andando?
- (limpa as lágrimas) Bora.
- Encontrou mais alguma coisa?
- Espera, droga. Estou me cortando inteira. (grunhe. Vai chorar de novo). Queria um sapato.
- Uma referência.
- Não, um sapato.
- Pro psiquismo, "sapato" significa "referência".
- (...) Eu quero parar de me cortar!
- Mas pra parar de se cortar, tem que parar de andar.
- (...) Posso deitar aqui?
- Não. Vamos andando mais um pouco.
- Merda. (chora)
- Encontrou alguma coisa?
- (chora)
- Vamos andando. Devagar.
- (pára.) Olha.
- Que foi?
- Uma árvore seca. Uma blusa, ou camisa, presa no galho. Coisa de filme. Uma pista.
- Hum, mais alguém esteve aqui.
- Faz tempo. Agora acho que só tem eu.
- Eu também estou aqui.
- E isso não adianta nada. Você também não sabe onde é "a frente" e não me garante que alguma coisa vá ser diferente dessas pedras.
- Dessa vida sem sentimento.
- Dessas pedras.
- Pro psiquismo, 'pedra' representa 'ausência de sentimento'. Vamos andando.
- (chora)
- O que foi?
- Eu quero deitar um pouco. Posso continuar amanhã?
- Pode.
- (chora) Eu tenho medo!
- De alguma ameaça enquanto você dorme?
- Se alguém me destroçasse enquanto durmo, não sabe o favor que me faria. Eu tenho medo é de amanhã querer deitar de novo, até depois de amanhã.
- O que é mais difícil, ao caminhar?
- Falta de perspectiva. Falta de garantia. Falta de certeza de que exista algo diferente disso aqui (aponta à volta).
- Se ficar aí, temos certeza de que não vai existir, mesmo. Se você continuar andando, tem chance de que exista.
- Mas não tenho garantia.
- Não temos.
- (chora).
- E onde você vai deitar, se é tudo cortante?
- Tateei um canto, tirei os pedregulhos. Eu caibo aqui. (se encolhe).
- Tira uma foto desse momento exato. Vamos retomar deste ponto, depois que você descansar.
==================================
- (...) mas tem uma menina, enfiada num poço, gritando o tempo inteiro. Eu sustento essa cara de parte integrante da sociedade, e faço sucesso. Mas ela já perdeu as unhas nas paredes. Ela, as roupas dela e a boca, têm a mesma palidez.
- Paredes de pedra?
- É.
- Iguais às do abismo.
- Sim.
- Posso falar com ela?
- Se conseguir fazê-la parar de gritar, vá em frente. (fecha os olhos)
- Oi.
- (...)
- O que foi?
- Ela não fala. Quase morreu de susto com você.
- Mas parou de gritar.
- Parou tudo. Até o coração.
- Estou jogando uma corda pra ela.
- (...)
- E então?
- Ela não quer subir.
- Por que não?
- Porque a vida dela é essa.
- Do que ela precisa?
- De tudo que ela tinha. Calor. Perspectiva. Esperança. Segurança.
- E por que ela não sobe? Podemos oferecer isto pra ela, cá em cima.
- Desculpa, mas ela está gargalhando neste momento.
- Desce e vai buscá-la.
- (...)
- Chegou?
- (chora) Ela me agrediu. (chora mais ainda) Como eu posso ajudar alguém que quer ficar como está?
- Ela te deu veneno?
- Ela me bateu! Parece que a ameaça, sou eu!
- Ela sente, você pensa. Ela não quer ficar como está. Só que ela não acredita que possa ser diferente.
- Por que ela desceu, maldita? (limpando o sangue, encarando um bicho)
- Talvez porque aqui em cima fosse tudo mentira, pra ela.
- (...)
- E então? Como está?
- Ela se desarmou. Eu vou levá-la pra cima.
- E o que você pode oferecer pra ela?
- (...) (...) (...) companhia.
- E o que mais?
- Mais nada. Eu mesma não tenho mais do que isso. As garantias, a esperança, a segurança e o escambau de que ela precisa, eu também não tenho. Vamos achar por aí.
- Se andarem por aí, vão achar.
- Ou não.
- Ou não. Mas se não andarem, com certeza não vão achar nada. Se andarem, ainda têm chance.
- Ela desaprendeu o português, de tanto não falar. E não pára de olhar tudo. E eu vou olhando pra frente, praticamente arrastando-na.
- Pelas mãos, pelos cabelos?...
- Não. Ela está agarrada em mim. Descabelada, sangrando, roupas velhas e rasgadas. Muda e descrente.
- Desconfiada.
- De tudo. Ela é pior do que eu.
- Ela é você.
- Não. 'Eu' estou indo em frente.
- Não. 'Você' está deitada nas pedras. Você está num vale, ou num poço ermo e solitário gritando, e não quer mais nem tentar se explicar. Só se expressa. Só grita, arranca as unhas e a pele nos seus próprios sentimentos amortecidos. Vamos agora andar agarrada à sua parte consciente - essa que se desenvolveu forçosamente nesses últimos anos. Você irá um pouco mais em frente, amanhã. E um pouco mais em frente,
depois de amanhã. Até encontrar alguma coisa colorida.
- (...) Onde é "em frente"?
- Onde você determinar.
======================================
(...)
- É uma noite sem lua e sem estrela. Sabe um vale que se forma no vão entre duas paredes de pedra? Mas nem perde seu tempo. Olha pra cima: não tem fim. Não sonha em escalar, em voar.
- O que tinha lá em cima?
- Luz. Gente bem vestida, vozes. Música. Calor. Luz, luz em todos os lugares. Está tudo bem feito, colorido, e as pessoas não páram de falar umas com as outras. Sorrindo, sempre. Está tudo bem.
- E por que você desceu?
- (...) Era mentira.
- E aqui embaixo, é verdade?
- Também não sei. Mas olha.
- O quê?
- Minhas pernas e braços cortados. Esse sangue, é de verdade. Estou tentando andar. (chora) Só que eu não sei onde é "a frente", e só tem pedras irregulares. Mais caio do que ando. Vou indo cada vez mais devagar porque não enxergo nada.
- E o que tem aqui?
- Pedras irregulares, pedras irregulares e pedras irregulares. Eu tropeço nelas, eu as chuto, eu ando descalça sobre elas, eu dou de cara com paredes delas.
- Elas, sim, são de verdade.
- O meu sangue está nelas, não está?
- Vamos andando?
- Já estou indo. (chora) Não reclama.
- Quer encontrar uma lanterna?
- NEM FERRANDO!
- Não é melhor ver onde está pisando?
- Não, obrigada. Quero continuar só com a mínima noção dessa paisagem horrorosa.
- Então, que você quer encontrar?
- Qualquer coisa diferente disso tudo.
- Como o quê?
- (...) Alguma coisa colorida?...
- Como o quê?
- Não importa. Se eu ficar fascinada com alguma coisa, já tenho combustível pra andar mais um pouquinho.
- Vamos andando.
- (...)
- Achou alguma coisa?
- Pisei numa coisa macia. É uma pele. Tipo uma estola.
- Vai usar isso pra proteger qual parte do seu corpo?
- Dou a mínima pra proteção do meu corpo, agora. Estou fascinada.
- Fascinada pelo quê?
- Pelo fato de que alguém já esteve aqui. (...) É um animal pequeno. Era. Morreu faz tempo. Não tem nem cheiro, mais.
- Então pode ter mais vida, aqui.
- (chora) Morreu faz tempo.
- Vamos andando?
- (limpa as lágrimas) Bora.
- Encontrou mais alguma coisa?
- Espera, droga. Estou me cortando inteira. (grunhe. Vai chorar de novo). Queria um sapato.
- Uma referência.
- Não, um sapato.
- Pro psiquismo, "sapato" significa "referência".
- (...) Eu quero parar de me cortar!
- Mas pra parar de se cortar, tem que parar de andar.
- (...) Posso deitar aqui?
- Não. Vamos andando mais um pouco.
- Merda. (chora)
- Encontrou alguma coisa?
- (chora)
- Vamos andando. Devagar.
- (pára.) Olha.
- Que foi?
- Uma árvore seca. Uma blusa, ou camisa, presa no galho. Coisa de filme. Uma pista.
- Hum, mais alguém esteve aqui.
- Faz tempo. Agora acho que só tem eu.
- Eu também estou aqui.
- E isso não adianta nada. Você também não sabe onde é "a frente" e não me garante que alguma coisa vá ser diferente dessas pedras.
- Dessa vida sem sentimento.
- Dessas pedras.
- Pro psiquismo, 'pedra' representa 'ausência de sentimento'. Vamos andando.
- (chora)
- O que foi?
- Eu quero deitar um pouco. Posso continuar amanhã?
- Pode.
- (chora) Eu tenho medo!
- De alguma ameaça enquanto você dorme?
- Se alguém me destroçasse enquanto durmo, não sabe o favor que me faria. Eu tenho medo é de amanhã querer deitar de novo, até depois de amanhã.
- O que é mais difícil, ao caminhar?
- Falta de perspectiva. Falta de garantia. Falta de certeza de que exista algo diferente disso aqui (aponta à volta).
- Se ficar aí, temos certeza de que não vai existir, mesmo. Se você continuar andando, tem chance de que exista.
- Mas não tenho garantia.
- Não temos.
- (chora).
- E onde você vai deitar, se é tudo cortante?
- Tateei um canto, tirei os pedregulhos. Eu caibo aqui. (se encolhe).
- Tira uma foto desse momento exato. Vamos retomar deste ponto, depois que você descansar.
==================================
- (...) mas tem uma menina, enfiada num poço, gritando o tempo inteiro. Eu sustento essa cara de parte integrante da sociedade, e faço sucesso. Mas ela já perdeu as unhas nas paredes. Ela, as roupas dela e a boca, têm a mesma palidez.
- Paredes de pedra?
- É.
- Iguais às do abismo.
- Sim.
- Posso falar com ela?
- Se conseguir fazê-la parar de gritar, vá em frente. (fecha os olhos)
- Oi.
- (...)
- O que foi?
- Ela não fala. Quase morreu de susto com você.
- Mas parou de gritar.
- Parou tudo. Até o coração.
- Estou jogando uma corda pra ela.
- (...)
- E então?
- Ela não quer subir.
- Por que não?
- Porque a vida dela é essa.
- Do que ela precisa?
- De tudo que ela tinha. Calor. Perspectiva. Esperança. Segurança.
- E por que ela não sobe? Podemos oferecer isto pra ela, cá em cima.
- Desculpa, mas ela está gargalhando neste momento.
- Desce e vai buscá-la.
- (...)
- Chegou?
- (chora) Ela me agrediu. (chora mais ainda) Como eu posso ajudar alguém que quer ficar como está?
- Ela te deu veneno?
- Ela me bateu! Parece que a ameaça, sou eu!
- Ela sente, você pensa. Ela não quer ficar como está. Só que ela não acredita que possa ser diferente.
- Por que ela desceu, maldita? (limpando o sangue, encarando um bicho)
- Talvez porque aqui em cima fosse tudo mentira, pra ela.
- (...)
- E então? Como está?
- Ela se desarmou. Eu vou levá-la pra cima.
- E o que você pode oferecer pra ela?
- (...) (...) (...) companhia.
- E o que mais?
- Mais nada. Eu mesma não tenho mais do que isso. As garantias, a esperança, a segurança e o escambau de que ela precisa, eu também não tenho. Vamos achar por aí.
- Se andarem por aí, vão achar.
- Ou não.
- Ou não. Mas se não andarem, com certeza não vão achar nada. Se andarem, ainda têm chance.
- Ela desaprendeu o português, de tanto não falar. E não pára de olhar tudo. E eu vou olhando pra frente, praticamente arrastando-na.
- Pelas mãos, pelos cabelos?...
- Não. Ela está agarrada em mim. Descabelada, sangrando, roupas velhas e rasgadas. Muda e descrente.
- Desconfiada.
- De tudo. Ela é pior do que eu.
- Ela é você.
- Não. 'Eu' estou indo em frente.
- Não. 'Você' está deitada nas pedras. Você está num vale, ou num poço ermo e solitário gritando, e não quer mais nem tentar se explicar. Só se expressa. Só grita, arranca as unhas e a pele nos seus próprios sentimentos amortecidos. Vamos agora andar agarrada à sua parte consciente - essa que se desenvolveu forçosamente nesses últimos anos. Você irá um pouco mais em frente, amanhã. E um pouco mais em frente,
depois de amanhã. Até encontrar alguma coisa colorida.
- (...) Onde é "em frente"?
- Onde você determinar.
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(...)
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